domingo, 30 de janeiro de 2011

Começando...


            Foram meses de planejamento para o que se pode chamar de ano sabático e o frio na barriga, mesmo depois de a viagem já ter começado,é igual ou até mais intenso do que quando apenas se pensava em fazer algo diferente na vida. Acho que os sentidos nunca estiveram tão fora de si – não no mau sentido, mas aguçados demais para receber um caminhão de informações. Desta vez, até minha cidade predileta aparece com ares diferentes, diante da certeza de que esta nãoé mais uma viagem de férias e, por isso, envolve responsabilidades. E o conhecimento a que me propus adquirir ganha mais um desafio: se abrir para um novo mundo. França e Ásia. Voilá! Je suis ouverte! J’espère!
Depois de as pendências domésticas tomarem mais tempo que o previsto e de a chegada a Lisboa vir acompanhada da perda de conexão para Paris e de um terrível estresse com a bagagem, finalmente, Paris! Afinal de contas, não é nada confortável ter as malas retiradas do avião quando só se pegaria as ditas cujas no destino final e esperar quase duas horas para recuperá-la com a terrível sensação de que, assim como duas semanas antes, elas também se perderiam.
O francês vai muito bem, obrigada, bem mais do que eu imaginava. Cheguei à conclusão de que, realmente, aprender uma língua no dia a dia é bem mais eficaz e barato que sentar em qualquer sala de aula. O que não impedirá, claro, de me preparar para fazer o teste de proficiência. Obrigação número um: entrar numa boa padaria ou no Monoprix (o supermercado que eu amo) e comer tudo o que gosto: croissant de verdade, galette des rois, biscoitos maravilhosos, tortas indecentes e vinhos très bon!
Obrigação número dois: les soldes, as liquidações mais fantásticas que já vi. Momento futilidade (as mulheres vão me entender, com certeza): a sensação de sair de uma loja e entrar em outra e, depois, sair comprando tudo o que a anteninha do consumismo apontou é indescritível. E com um detalhe: a certeza de que se está fazendo um excelente negócio comprando tudo muito, mas muito mais barato – do que no Brasil principalmente.
Obrigação número três: olhar a Torre Eiffel todos os dias, do despertar à hora de deitar. Escrever olhando para ela, que aparece do lado de fora da janela tão maravilhosa, a apenas três quarteirões de distância e tão perto como se estivesse do outro lado da rua, pode parecer bobagem, mas para mim é algo mágico. E quando ela se ascende à noite? Simplesmente, irresistível.
Da cidade das luzes para outra realidade. Estamos na Índia – melhor aproveitar agora, enquanto o calor não chega. Em Nova Délhi, o frio não é tão intenso como em Paris, mas o agasalho também é potente. Bem, é outro mundo. A começar pela alfândega. A galera do passaporte é tão dura que faz de qualquer agente da imigração europeia a pessoa mais simpática da face da Terra. Vim tão armada para o pior que o tal choque na chegada de que todos falam não existiu. Até agora, tudo o que eu vi, esperava bem pior. São quase 4 am (diferença de 7 horas e meia do Brasil e de 5 da França) e escrevo numa madrugada de pura insônia, quando resolvi fazer o blog, atendendo pedidos! O silêncio é quase inacreditável, dada a balbúrdia que se vê e se ouve durante o dia.
Saindo do Aeroporto Indira Gandhi, a certeza absoluta de que não se chegará vivo ao hotel predomina. Costurar no trânsito de qualquer cidade é fichinha perto do que rola por aqui. Filas de carros nas ruas e avenidas não existem. Eles ficam em tudo enquanto é posição, menos em fila. Sinais de trânsito são poucos e menos ainda são os que funcionam e para quem acha que motorista buzina demais nas grandes cidades, deveria ver o que ocorre aqui. Não se passam dois segundos sem um “peeennn” (sem qualquer exagero). É um tipo de organização que só mesmo os indianos entendem. Aquela coisa de que “eu dirijo desse lado e você do outro”  nunca passou por aqui. Mas, como dizem… “É a Índia (o que ainda está difícil de absorver). Todos os meios de transporte para todas as classes sociais, literalmente, se cruzam. No primeiro dia, você acha que vai enlouquecer. No segundo, começa até a achar engraçado…
Estamos bem no Centro de New Delhi, numa área com muitos hotéis e muitos turistas, predominantemente europeus e japoneses. Nas ruas, a sujeira é grande. Uau! Deixa qualquer entorno de rodoviária um brilho só. A intenção é aperfeiçoar também o inglês, mas até agora não consigo entender só 10% do que eles falam. Só se passou um dia e meio…
Enquanto puder, vou sobreviver com comida chinesa, porque a indiana é muito apimentada e eu não suporto. Mais que me fazer mal, acho que estraga o sabor da comida. No primeiro dia, me dei super mal com o que vi de mais simples no cardápio, batata e couve-flor, na certeza de que isso salvaria. Putz! No jantar, fiquei mais esperta. Aliás, comer é bem barato. Com 8 euros dá para almoçar e jantar tranquilamente (comida boa, para quem aprecia a culinária local), em muito bons restaurants. Ah! 8 euros para duas pessoas.
Templos existem por todo lado. 18h é o horário da ave-Maria dos ocidentais e também de Khrisna, de Shiva e dos milhares de deuses que há por essas bandas. Entrei no de Khrisna, ouvi um pouco da cantoria (bonito, aliás) e depois num de Shiva. Difícil foi deixar o pé só com meia no chão gelado. O resto foi interessante. Bem, fato é que para encarar um país como esse uma parte da frescura tem que ficar de lado e a mente deve se abrir o máximo possível. E isso nem sempre é fácil… Estou tentando…
Tinha que pôr o assunto em dia! Por hoje, vou ficando por aqui.

Junia Oliveira