quinta-feira, 23 de junho de 2011

CAXEMIRA


Quando se chega à Caxemira logo se entende porque a Índia, o Paquistão e, por vezes, a China, vivem se degladiando por causa dessa região. A beleza é algo impressionante. Verde por todo lado, água em abundância e clima fresco, bem diferente do calor insuportável do restante do país. E, para completar a cena, os Himalaias, que em plena primavera podem ser vistos ainda bem branquinhos de neve à longa distância, fazendo os olhos se perderem no horizonte. Parques e jardins, lotados de flores e bem cuidados, completam as riquezas desse pedacinho da Ásia. E as rosas… ah! Magníficas!
Mas, o problema da Caxemira é, definitivamente, os habitantes de lá. A fama deles roda o mundo e não se deixa mentir. Há um ditado popular segundo o qual todos os dias saem na rua um trouxa e um esperto e o problema ocorre quando os dois se encontram. Pois é. Talvez esse dito popular não exista por aquelas bandas, mas se eles o conhecem, concordam plenamente. Nesse caso, os trouxas são os turistas (não somente os estrangeiros, mas até os indianos) e os espertos são eles.
O tempo todo, a regra é “passar a perna” em alguém. São capazes de dizer qualquer coisa só para vender. Aliás, para eles é inadmissível que alguém vá à Caxemira e não compre qualquer coisa. Não entendem que turismo é, sobretudo, conhecer e apreciar uma região. Se você é estrangeiro, então…Não é possível andar na rua por mais de um minuto sem que alguém ofereça algo. E são capazes de te seguir quarteirões e mais quarteirões sem desistir – muitas vezes, não sobra outra alternativa que não seja gritar e xingar, depois de um milhão de “No, thank you”. Mesmo o mais paciente perde a paciência com os “caxemiries”.
O passeio no Dal Lake, o lago mais famoso de Srinagar, a capital, é feito num barco chamado Shikara, cuja decoração se aproxima bastante do kitsch, como tudo na Índia. Mesmo no lago, em plena paz, dezenas de barcos se aproximam para oferecer produtos que vão de água mineral, comida e cigarros (de todos os tipos).
Comprar a pachemina, o produto mais famoso da região – xales ou echarpes feitos com a lã de uma ovelha muito rara e especial – é uma aventura. A verdadeira, de tão preciosa, nem fica nas lojas, mas não faltam vendedores querendo empurrar outro tipo como se fosse pachemina. A lã da Caxemira, de forma geral, é muito famosa no mundo todo e, por ser muito doce, sem realmente conhecer, é fácil cair no golpe.
Sinistros à parte, é hora de se aproximar das montanhas para ver os Himalaias de perto. A cidade mais próxima é Gulmarg, a apenas 60 quilômetros  de Srinagar, mas a três horas de ônibus – sim, as distâncias são um problema e, mesmo quando ela é pequena, a viagem é longa. A primeira parada é a 15 quilômetros do vilarejo, para que o indianos possam alugar roupas de frio – eles terminam o percurso já com enormes casacos, botas de plástico, luvas, cachecol e toucas, mesmo se o frio é ainda inexistente. O único problema em alugar é a certeza de que as roupas saem de um corpo e entram diretamente em outro sem, jamais, serem lavadas. A cor e o aspecto falam por si… Por isso, o melhor, é gastar um pouco de dinheiro para comprar roupas novas em alguma loja de Srinagar, pois a região é realmente fria e não há aquecedores nem nos hotéis.
Gulmarg é muito linda, mas o melhor é olhar sempre para cima, na direção das montanhas, pois o chão é repleto de fezes de cavalo (o transporte oficial da cidade) que, misturadas à neve que se desconegela nessa época do ano, deixam um aspecto nada agradável. A cidade é simpática, mas as pessoas… Também só querem se aproveitar – para a população de Srinagar dizer isso, dá para imaginar. Depois de constatar esse problema, a estadia de cinco dias se resumiu a dois.
Os hotéis têm preços de Paris. A comida dos hotéis, única opção, é complicada e, por fim, para subir às montanhas no teleférico é preciso jogo de cintura. Na abertura dos guichês para a venda dos ingressos, às 10h, as filas se transformam em arenas de luta livre, sendo necessária a intervenção da polícia para conter a multidão. Sorte é quando você encontra um funcionário gentil que lhe traz o ticket sem cobrar propina e ainda te deixa dentro do teleférico, sem enfrentar nova fila.
Mas, até mesmo dentro da cabine, está lá de novo o esperto… e a trouxa. Depois de esquiar nos Himalaias, a descoberta de ter pago por duas horas de equipamento e guia duas vezes mais do que se paga pelo mesmo serviço por uma semana inteira, em plena alta estação, no inverno, não deixa ninguém contente. E o guia ainda aparece no hotel com outros três colegas em busca de mais dinheiro… É nessa hora que a presença masculina se impõe!
Mas as montanhas compensam tudo. É uma paisagem que deixa qualquer um boquiaberto, é algo matavilhosamente extraordinário. É como abrir os abraços, se entregar de corpo e alma e ganhar o mundo. Uma experiência inexplicável.

KERALA


O Sul da Índia tem uma das paisagens mais interessantes do país. No estado do Kerala, os coqueiros, abundantes tanto nas grandes cidades quanto nos lugares mais isolados, são o denominador comum de uma mistura composta por belezas naturais e riquezas históricas. Foi nesse território que o navegador Vasco da Gama pisou em território indiano pela primeira vez, na cidade de Kappad, dando início à expansão portuguesa na Ásia.
Em Calicut, uma das cidades mais importantes e populosas, se concentram os grandes mestres da medicina aurvédica, um dos sistemas médicos mais antigos do mundo, e o Kalaripayat, arte marcial indiana. Do lado da saúde, ricos e pobres são atendidos pelos doutores que prometem curar qualquer tipo de doença, inclusive o câncer, e não apenas aliviar sintomas.
A ayurveda trabalha com o princípio de cuidar do corpo como um todo e encontrar a raiz do problema. O tratamento, à base de plantas medicinais, inclui óleos, massagens, banhos especiais, dieta bem controlada, ioga e meditação. Há mais de cinco mil anos, gerações e gerações de médicos acreditam que cada corpo é diferente e, por isso, mesmo se os pacientes têm os mesmos sintomas, o tratamento para cada um é único.
O Kalaripayat, por sua vez, trabalha com o desenvolvimento do corpo, o controle da mente e tem ainda seu lado medicinal, com massagens e tratamentos próprios. A luta em si é basicamente corporal, mas usa também escudos, espadas e bastões como instrumentos de ataque e defesa.
KOCHI É à beira-mar que o Kerala se revela particularmente especial. Em Kochi, a quatro horas de ônibus de Calicut, a paisagem reina absoluta e explica por que os exploradores europeus, principalmente portugueses, franceses, alemães e holandeses se fixaram no entorno do forte da cidade anos atrás. As construções em estilo colonial, deixando esta parte da cidade com cara de vilarejo europeu em pelo clima tropical, exibem as influências do passado ainda bem fortes.
A gastronomia é outro ponto forte: é possível comprar peixes e frutos do mar bem frescos nas barracas ou diretamente no barco do pescador e levar a um restaurante para serem preparados por um preço quase ínfimo.



GALERIA DE FOTOS 4


Depois de algum tempo desatualizado, Nosso Mundo Aqui volta a todo vapor, com mais capítulos da aventura indiana em fotos do Kerala e da Caxemira.

Aproveitem!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

GRACIOSA E AGRESSIVA KUNDAPURA


Pequena cidade do estado do Karnataka, logo abaixo de Goa, Kundapura tem como principal atrativo uma praia livre de turistas e até mesmo de nativos. Correnteza forte, ondas pequenas e uma água deliciosamente morna são cenário perfeito para um banho de mar para lá de agradável. Mas estrangeiros acabam se tornando a atração principal da vizinhança. Se ao chegar há ninguém, o mesmo não se pode dizer depois de cinco minutos. Não se sabe de onde nem como, mas os indianos aparecem de repente e, sorrateiramente, espiam quem está na água. E podem ficar horas a fio, satisfazendo a curiosidade e a vontade – eles não passam da espuminha, só entram em grupo e vestidos da cabeça aos pés.
Se por um lado tudo é maravilha, de outro, toda a atenção ainda é pouca. Kundapura é reduto do BJP, o partido da extrema-direita hinduísta. Entre seus principais preceitos, está o ódio aos estrangeiros. Diante disso, a sensação de insegurança e de “personas non gratas” é constante e passa pelo olhar mortal de quem passa pelas ruas ao garçom do restaurante, que vai te servir com a cara mais amarrada do mundo, sempre vai errar o pedido e nunca vai te olhar – o que é melhor, pois do contrário, será com cara de quem quer te matar. Isso nos dois restaurantes localizados dentro do hotel, de altíssimo nível em termos de conforto, limpeza e atendimento.
Problemas até mesmo com a agência de viagem, que te vende um bilhete da pior compartimento do trem como se fosse de primeira classe – pelo menos descobrimos o golpe antes de embarcar.
Sendo assim, a melhor decisão às vésperas da final da Copa do Mundo de Criquet, o esporte nacional indiano, é deixar Kundapura e seguir viagem rumo ao Kerala. Já na semifinal, quando a Índia eliminou o Paquistão, a saída para a foto durou uns poucos minutos, devido aos ânimos um tanto quanto exaltados de quem passou a tarde bebendo. A confusão era iminente diante dos olhares agressivos.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

GOA PORTUGUESA


O estado de Goa, na costa Oeste, mostra aos olhares estrangeiros algo entre o peculiar e o exótico, mistura que rapidamente revela uma outra Índia, diferente de qualquer parte do país. Seja na arquitetura, na linguagem ou no modo de vida da população, tudo ganha ares particulares. Ex-colônia portuguesa, assim como as cidades de Diu e Damão, guarda ainda raízes da língua portuguesa e exibe as influências europeias nas edificações em estilo colonial. Aliás, andar por Goa é sentir-se em casa. Em Panaji, a capital, as igrejas com a praça logo em frente cercadas por antigos casarões parecem as cidades históricas de Minas Gerais. Outras vezes, vielas e as escadarias em ruas estreitas dão a impressão de se estar em Lisboa. Sentimento ainda mais forte quando se vê o nome de logradouros indicados em finos azulejos. Ou quando os azulejos estão bem na entrada dos imóveis, escancarando o nome da família proprietária. Um verdadeiro pedaço de Portugal!
Os portugueses de Goa formam uma espécie de clã, orgulhoso de suas origens e saudoso dos tempos da colônia. Sangue português correndo nas veias e condenação no lugar da libertação são alguns dos conceitos repetidos inúmeras vezes por diferentes pessoas. O reduto de muitos é a Loja do Bento, especializada na venda de vinhos produzidos na Índia ou em Portugal e uísques. Local movimentado pelo vaivém de quem passa para beber um trago, dizer apenas “Oi” ou sentar para uma prosa mais longa. Aliás, de boa prosa eles entendem bem e são capazes de passar horas a fio contando um bom “causo”! Sem falar do futebol… Torcedores do Sporting e do Porto travam verdadeiras batalhas esportivas, engraçadas aos ouvidos de quem é neutro dentro do campo.
Na companhia de Sélvio Fernandes, o típico indiano com cara de português, descobrimos a hospitalidade goesa, várias facetas da cultura local e uma amizade livre de fronteiras. Além de um passeio gastronômico em elegantes restaurantes, em casa ou na simplicidade de um estabelecimento à beira-mar, dono de uma fineza culinária inesquecível. E como se não bastasse tanta generosidade, ele ainda é do tipo que ajuda no que precisar, a qualquer momento, sem pestanejar.
Mas, Goa tem várias faces. E, justamente por isso, atrai muitos turistas estrangeiros, principalmente em busca de sol e mar nos vilarejos – nesses locais, é grande a quantidade de russos e outras nacionalidades da Europa do Leste. E turistas significam injeção de dinheiro, um movimento que chega ao nível da ganância e que muda a cara de antes pacatas cidades. Não é possível andar 10 metros – sem qualquer exagero – sem ouvir a pergunta “Táxi?”, seja na capital ou, incrivelmente, até nos vilarejos, nos estreitos e sinuosos caminhos de terra até a praia. No fim do dia, a paciência fica inversamente proporcional à quantidade de abordagens. O pior é o preço cobrado, que ultrapassa os limites do bom senso.
No caso das praias, como em Anjuna, uma das cidades mais procuradas pelos estrangeiros, a frase-chave, num inglês parco, é: “Come visit my shop”. A “loja” nesse caso é uma tenda improvisada ao longo do caminho ou à beira-mar vendendo, principalmente, roupas. Ou, ainda, o modelo ambulante: todas as mulheres soltam as mesmas frases – “How are you?” e “From?” – para, em seguida, oferecer as bijouterias guardadas em pequenas caixas. Tudo normal se isso não ocorresse 10 mil vezes num curto período de tempo.
A comida também é um nó: além de ser muito mais cara que em Mumbai, por exemplo, tem uma qualidade bem inferior. O problema é que os moradores desses lugarejos têm seis meses para fazer dinheiro para os próximos seis, quando as chuvas chegarão e os turistas terão ido embora. Assim, explorar se torna básico, mesmo quando a oferta de restaurantes, táxis e “shops” é muito maior que o número de estrangeiros.
Os estrangeiros, aliás, além de capital em potencial, são a atração dos turistas indianos, por causa da roupa de banho. Indianos só entram no mar vestidos completamente (com a roupa do dia a dia mesmo, embora alguns homens se arrisquem a ficar de calção), em bando e não passam da espuminha. Logo, para eles é incrível ver as mulheres de biquíni, os homens de sunga e entrando mar adentro. A cena é motivo para homens e mulheres nativos passarem horas observando, tirar fotos ou até mesmo pedir aos estrangeiros para posar ao lado deles. Os mais tímidos preferem ser fotografados com os “peladões” ao fundo, numa discrição muito mal ensaiada!
DROGAS Outra face de Goa são as drogas lícitas e ilícitas. Como o estado é zona franca, o preço das bebidas é irrisório. Uma dose de uísque, por exemplo, custa cerca de R$ 1. Já uma garrafa de cerveja 600ml sai por menos de R$ 2. Também ponto forte do comércio, no caso das praias mais frequentadas pelos estrangeiros, é a venda de entorpecentes em qualquer canto e a qualquer hora do dia e da noite.
E, outra particularidade desses locais: nesse caso, em território de indiano o que se ouve é música eletrônica ou trance, seja na música ambiente dos restaurantes ou em festas organizadas à noite em bares à beira-mar. A maioria esmagadora dos frequantadores são turistas de fora do país, normalmente também responsáveis pela organização. Poucos indianos espreitam o que se passa, alguns na expectativa de flertar ou ter algo a mais com alguma estrangeira, já que entre os hindus o namoro é um capítulo bem diferente.
Mas isso não ofusca os bons momentos, como aqueles do fim do dia, na volta da praia, com parada obrigatório para jogar conversa fora com o funcionário Santoshi, um indiano que fala tudo o que os outros não falam, o suíço Bent (casado com uma indiana) e o finlandês Jan (lê-se Ian. Ele trabalha na bolsa de valores, passa cinco a seis meses em Goa há três anos consecutivos e opera as ações de seu computador, algumas horas do dia, longe do frio e bem perto do sol. Em junho, volta para casa para aproveitar o verão da Finlândia) .
Ou a oportunidade de participar de uma das datas mais importantes da Índia, o Holy Day, celebração da alegria, da chegada do ano novo dos hindus, em que a ordem é jogar pó colorido uns nos outros. Momentos em que se aprende um pouco mais sobre as concepções de vida de cada um e as surpresas de um mundo nem tão grande assim.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

GALERIA DE FOTOS 3

Mais uma sequência de fotos para vocês também seguirem viagem! Agora, imagens de Mumbai, o centro econômico da Índia; de Goa, estado que já foi colônia de Portugal; e da cidade de Kundapura, no estado do Karnataka, mais ao Sul do país.

Cenas dos trens e das loucas estradas indianas também estão retratadas nesta galeria.

Apreciem!



terça-feira, 15 de março de 2011

GALERIA DE FOTOS 2

Mais fotos disponíveis! Desta vez, a magia do Taj Mahal e os encantos do céu de Agra, além de um passeio por Damão, a ex-colônia portuguesa.

Viajem!



quarta-feira, 9 de março de 2011

É CARNAVAL!!!

Confete e serpentina também do outro lado do mundo. Em plena Índia, quatro dias de carnaval, exatamente na mesma época que no Brasil. A festa ocorre em Goa – assim como as cidades de Damão e Diu, o estado é uma ex-colônia portuguesa. Os desfiles começaram sábado, na capital, Panaji. Mais três cidades recebem a parada. Milhares de pessoas acompanharam a passagem de 90 blocos e 55 carros alegóricos num percurso de  três quilômetros. À frente, a corte momesca abre caminho – sim, por aqui ele também faz sucesso!
Cristãos, hindus e muçulmanos se espremem nas laterais da avenida para não perder nem um momento. À noite, carnaval em pleno mar, em navios luxuosos. Festa para indianos, majoritariamente, e também para os estrangeiros. Máquinas fotográficas a postos, ninguém se intimida em invadir a passarela para registrar a festa.
Na terça-feira, Red and Black Party, cores obrigatórias do traje, para celebrar o último dia da festa pagã, com muita música e dança. Pena que terminou precocemente por causa da intervenção proposital da polícia hindu que com a desculpa de som alto ser proibido depois de determinada hora (eram nem 23h e a licença permitia o show até as 2h) agiu pelo simples prazer de acabar com a alegria dos outros… 

SURPREENDENTE MUMBAI


Contrariando todas as expectativas, Mumbai (ex-Bombay) se revelou extremamente interessante. Ao chegar ao centro nevrálgico da Índia, logo se compreende porque todos falam que chegar em Delhi é um choque. Tudo é diferente, a começar pela limpeza e pela organização do trânsito, com semáforos que realmente funcionam – mesmo os indianos sendo muito impacientes e não respeitando muito o verde e o vermelho, preferindo se jogar entre os carros. No lugar mais populoso da Índia, as buzinas são bem menos usadas que nas pequenas cidades do Norte do país – reflexo da organização.
Mumbai, formada por sete ilhas, é uma bela cidade e tem uma história que remonta a anos antes de Cristo. Depois de várias dinastias, foi cedida a Portugal em 1534 pelo sultão do Gujarat (estado indiano). Aliás, foram os portugueses que batizaram o lugar de Bom Bahai, mas o deixaram de lado por um bom tempo, até ser incluído no dote de Catarina de Bragança, por ocasião de seu casamento com o Charles II da Inglaterra, em 1661.
A região Sul da cidade poderia ser, facilmente, uma mistura de Rio de Janeiro com São Paulo. O Forte é, sem dúvida, uma das áreas mais charmosas – onde se localiza o forte de Mumbai, construído nos anos 1720.  Passear por algumas ruas da região dos bancos é como andar pela Avenida Paulista, mas muito mais interesante. A arquitetura, em estilo colonial imponente, é maravilhosa e, não fosse o calor, poderia-se pensar que estamos em Londres. O quartel da polícia, o museu Chhatrapati Shivaji Maharaj Vastu Sangrahalaya (ex-Prince of Wales Museum) e a estação de trem Chhatrapati Shivaji Terminus (ex-Victoria Terminus) são exemplos de edifícios para lá de imponentes - todos os monumentos tiveram os nomes trocados do inglês para o hindu depois da libertação indiana.
Já um passeio pelas ruas de Colaba, perto do mar, é mergulhar nas lembranças de Ipanema e Jardim Botânico.Tudo é conservado, desde que esteja nas avenidas principais. Entrar um pouco no interior é descobrir prédios mal conservados e aquele odor que não deixa ninguém esquecer que está na Índia. Pelo menos, ao contrário de Delhi, as ruas de Mumbai não transformadas em banheiro público.
Mas como em toda grande cidade, a periferia tem seus problemas. O caminho do aeroporto é perturbador e, por isso, a primeira impressão é de que os outros cenários de pobreza e sujeira vão se repetir. A paisagem são as favelas às margens da avenida. Favelas que fazem de qualquer barraco no Brasil uma casa de luxo. Cobrindo a editoria de cidades e vivendo esse mundo no dia a dia, nunca vi nada igual. Nada de morros, tudo em linha reta, parecendo não ter fim. Pedaços de madeira, lonas e o que mais servir cobrem verdadeiros caixotes. Pessoas, lixo e o odor formam uma mistura impressionante.
A capital econômica da Índia tem várias faces e, por aqui, é possível encontrar de tudo. Lado a lado com a pobreza está também o luxo e o glamour. Restaurantes para os paladares ocidentais mais exigentes, lojas de extremo bom gosto e uma cena cultural pujante. Passear na região de Flora Fontaine no domingo pela manhã, entre o Forte e Colaba, por exempo, é ter a certeza de encontrar os carros de luxo antigos, conduzidos por colecionadores blionários.
Não se pode esquecer que é também a terra da indústria cinematográfica. Nos restaurantes e cafés mais chiques da cidade, é fácil topar com uma estrela do momento. Melhor ainda é ser convidado para uma noite muito agradável com um dos ícones de Bollywood, o ator Jackie Shroff, que atuou em quase 200 filmes. Primeiro, o chá das cinco num clube que congrega excelentes restaurantes, haras, espaço para casamentos da alta sociedade e, ao mesmo tempo, é uma bolha verde em plena Mumbai. Depois, um drink e petiscos já tarde da noite. Entre um e outro, histórias, lições e muita conversa boa. E quem já imaginou ter um super star como motorista? Pois é, como não bastasse tanta hospitalidade, terminamos a noite com uma carona de Jackie Shroff – ele na direção, o secretário ao lado e nós no banco de trás, na maior mordomia!
Mumbai multifacetária, Mumbai cultural, Mumbai em expansão, surpreendente Mumbai!

terça-feira, 1 de março de 2011

GALERIA DE FOTOS

Um pouco da Índia registrado pelas lentes do fotógrafo Alain Dhomé. Um passeio por formas, cores e pessoas. A galeria começa com imagens de Delhi, Mathura e Vrindavan. Aos poucos, mais da fotos da mágica Índia estarão disponíveis!

Enjoy it!


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

DAMÃO - TERRA PORTUGUESA


Estamos em Mumbai (Bombay) e, na lembrança, os agradáveis dias passados em Damão, uma cidade litorânea que pertenceu a Portugal até 1961. Para chegar lá, partindo de Agra, foi preciso enfrentar uma viagem de quase 20 horas de trem. Aliás, sair de Agra não é nada fácil. Embora a cidade seja grande, as linhas disponíveis levam a muitos poucos lugares. O melhor é encarar uma hora de trem até Mathura, por onde passam as grandes linhas. Depois, seguir até Surat (14 horas e meia) e, de lá, mais três horas de viagem até Vapi, localizada a apenas oito quilômetros do destino final. Basta pegar um táxi para terminar o percurso.
Damão, em português, ou Daman, em inglês, é uma ex-colônia portuguesa, da mesma forma que as cidades de Diu e Goa. Depois do frio enfrentado até Agra, o calor se mostra agora com toda a força. Em plena Índia, além dos idiomas oficiais inglês e hindi e de um universo imenso de outros dialetos, ouvir português soa bastante inesperado. É um português que dá um gostinho de casa, embora o sotaque seja mais próximo a Portugal. Nessas terras, os católicos são rapidamente reconhecidos, seja por falarem o português, seja pelas roupas ocidentais. Igrejas não faltam, mas, hoje, a maior parte das missas é rezada em inglês, por padres saídos de Bombay.
A cidade é calma e muito aconchegante, sem o assédio insuportável aos estrangeiros vivido nos lugares antes visitados. Pessoas gentis e hospitaleiras, prontas a te cumprimentar verdadeiramente numa simples volta pela rua. Pessoas especiais como a família Fernandes, legítimos portugueses/indianos – quem nasceu em Damão até 1961 é português. Três irmãos com muita história para contar. Victor, de 66 anos, mora em Londres há quase 10 anos, Maria Angélica, de 63, vive em Portugal há quase 40, e Teresa, de 60, foi a única a continuar na Índia, em Baroda, no estado de Gujarat. Com os três, conhecemos muitos aspectos da história damanense, da língua local, dos costumes e da alma indiana. Sem contar o privilégio de apreciar a culinária damanense, num maravilhoso almoço da casa de Victor, preparado por ele mesmo, com o maior bom gosto e refinamento.
Como Damão é uma zona franca, bebida é liberada a um custo irrisório, assim como vários outros produtos importados, entre eles cosméticos, chocolates e comidas finas. Resumindo, o que já é barato naturalmente na Índia, se torna uma pechincha!
Surpresa também em bons restaurantes. Alguém já experimentou sorvete frito? Algo sensacional! Uma bola com uma espécie de biscoito crocante envolvendo o sorvete de baunilha e calda de chocolate por cima…!!! Um espetáculo para os olhos e, claro, para o paladar. Não descobrimos como é feito, não há qualquer fissura nem gosto de fritura…
A praia, de areia negra, infelizmente, não é aconselhável. Esgotos no mar e um odor insuportável fazem qualquer um desistir de um banho de mar  - ratos circulam na areia no lugar de carangueijos. Mas isso não abala o aconchego da cidade, que nos apresentou outros espetáculos, como um festival de música sufista e uma festa típica religiosa, na qual imagens de entidades são lançadas ao mar, depois de muita música em dança que duram três dias - bem parecido com as homenagens a Iemanjá.  
E, para completar as semelhanças com o Brasil, um pouquinho de Minas Gerais, rapidamente detectadas pelas lentes de Alain Dhomé. Os barcos ancorados no porto exibem nas proas belas carrancas, bem ao estilo das navegações que correm o Velho Chico. 
Junia     Oliveira

domingo, 6 de fevereiro de 2011

UMA LÁGRIMA NO ROSTO DA ETERNIDADE


Agra - 06/02/11

O poeta indiano estava certo quando descreveu o Taj Mahal como “uma lágrima no rosto da eternidade”. O monumento, uma das sete maravilhas do mundo, é, simplesmente, magnífico (impossível não ser redundante). Não há palavras suficientes para descrevê-lo. Aliás, de frente para ele as palavras desaparecem e a garganta engasga. Ver o sol nascer e, devagar, envolver a suntuosa construção é mais que um privilégio. É tão especial que, ao ver as fotos, a impressão é de se estar vendo algo de mentira ou, talvez, um quadro pintado detalhada e delicadamente…
Os melhores momentos para apreciar o espetáculo são o nascer ou o pôr do sol. A luz muito forte do restante do dia reflete no mármore branco e atrapalha a visão (o que não tira, claro, a beleza do lugar). Vale a pena acordar bem cedo e se postar por volta das 6h30 em frente aos portões. A fila de turistas é grande nesse horário – o tempo de entrada foi de 45 minutos –, mas, com certeza, bem menor que no período da tarde. São duas filas: uma para comprar os ingressos e outra para entrar. Além de esperar os portões se abrirem, é preciso paciência para passar pelo lento processo de detectores de metal, revista e conferência de bolsas.
Enquanto os estrangeiros pagam 750 rúpias (12,3 euros ou R$ 28), os indianos pagam 25 rúpias (0,40 centavos de euros ou R$ 0,93) e ainda têm uma fila exclusiva, infinitamente menor e mais rápida. Mas, para entrar, todo mundo fica no mesmo barco – mulheres têm fila exclusiva.
Vale a pena depois ir diretamente ao Forte de Agra, que também foi um palácio, distante apenas dois quilômetros do Taj. Para estrangeiros, a entrada custa 300 rúpias (4,9 euros ou R$ 11), mas há um desconto de 50 rúpias se a visita ao Taj ocorrer no mesmo dia. Do forte, alias, há uma vista belíssima do mausoléu. 

VRINDAVAN


04/02/11 - Krishna nasceu em Mathura, mas foi na cidade vizinha de Vrindavan, distante apenas 15 quilômetros, que ele passou a maior parte do tempo. Com uma população de 52 mil habitantes, também é uma cidade sagrada, com seus 5,5 mil templos, dos menores e mais simples aos mais suntuosos. A peregrinação de indianos de toda a parte do país é constante. O lugar também peca pela limpeza e porcos selvagens dividem as sobras com macacos e vacas. Porcos que vêm da floresta, de acordo com os moradores, uma vez que os hindus não comem carne de espécie alguma.
Vindravan é ainda a terra das viúvas. Depois de perder o marido, se agarraram à religião como forma de renúncia e, o mais básico, ter o que comer. Diante das dificuldades com a língua hindu (o idioma da maioria delas), encontramos um jovem de 19 anos, que gentilmente fez papel de tradutor. Ravi Pandey é a cara da nova Índia, aquela povoada pelo celular e o computador e por meio dos quais as pessoas descobriram que o mundo é bem maior. Aquela na qual as pessoas querem ter qualidade de vida, ser felizes, dar dignidade às suas famílias. Uma Índia na qual as pessoas descobriram que Deus não pediu a ninguém uma vida de privações e que as tradições podem, perfeitamente, dialogar com o conforto e uma nova era.

DO DIA:
Três idas a Vindravan e bastante aventura. Nós também nos empoleiramos nos autorickshaws, conhecidos como “Tempos”, apertados na frente ou, o mais engraçado, segurando firme na traseira para não cair. Onde cabem sete bem acomodados, entram 15 (sentados) e mais uns dois pendurados nas laterais. 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

MATHURA


Mathura: cidade sagrada, a 140 quilômetros de Delhi, população de 320 mil pessoas, berço de Krishna. Reduto de hindus, é banhada pelo Rio Yamuna. Se em Delhi a quantidade de templos impressiona, por aqui, precisa nem dizer. Ornamentados com flores, estátuas, velas e muitas cores, podem estar num grandioso edifício, num cubículo ou até mesmo numa árvore.
Nas ruas e às margens do rio, homens, mulheres e crianças convivem e se misturam com cães, macacos, bois, porcos (que vêm da floresta, de acordo com os moradores, uma vez que os hindus não comem carne de espécie alguma) e vacas (o animal sagrado da Índia). Já passaram por aqui também camelos e elefantes. Com os macacos é melhor ter cuidado, pois eles são bem agressivos. Já as vacas andam tranquilas, comendo toda o tipo de coisas e com acesso livre a casas e lojas.
A paisagem tinha tudo para ser maravilhosa, não fosse o abandono de muitas construções – algumas delas, milenares -, o lixo espalhado por todas as partes e o esgoto correndo a céu aberto em canais de cimento construídos nas laterais de cada rua (ou no meio delas). O esgoto vai direto para o rio, que recebe, diariamente, além de flores, lixo de todo tipo. O que já não tem um odor nada agradável fica ainda pior com o cheiro de urina – seja na capital ou no interior, o banheiro predileto dos homens são as ruas (com ou sem muro e sem qualquer preocupação de se esconder). É um hábito, mesmo onde há banheiro público.
Mesmo assim, há cenas belíssimas, como a cerimônia das mulheres em homenagem a Yamuna, a primeira mulher do deus Krishna, que dá nome ao curso d’água.. Numa linda manhã ensolarada, dezenas delas acompanham um culto nas escadarias às margens do Rio Yamuna., todas descalças. Depois das palavras do brahman (o “padre” da religião hindu), elas ocupam oito barcos, que seguem cerca de 500 metros, até a outra margem do rio, cada uma com a missão de segurar o sari gigante e de estampas diversas que é desenrolado agilmente por homens que ficaram em terra firme.
Num semicírculo, elas deixam o pano cair na água, simbolizando um presente que é dado a Yamuna. Um nono barco é ocupado apenas  por homens, que resgatam o sari do rio. Na volta, a cerimônia continua com mais cantos, tambores, velas e flores.
Questionado sobre a periodicidade do culto, um jovem responde: “Todos os dias se elas quiserem. É só pagar ao brahman”. O preço por cabeça é de 1 mil rúpias (16,3 euros ou R$ 37), extremamente caros para os padrões indianos.

DO DIA:
Parece que éramos os únicos estrangeiros por aqui até o início da tarde, quando outro casal chegou. Bom para dividir o assédio dos nativos, que não se cansam de te acompanhar pela cidade inteira nem de oferecer barcos para fazer a travessia do Yamuna.
Esqueci de citar que na fauna de Mathura há também jacarés (ou algo muito parecido!). Numa volta à noite pela cidade, à base de lanterna (luz aqui vem e vai toda hora) quase pisei num filhote, que estava com uma família (de gente), na porta de casa. Que susto!
Precisamos chamar a polícia para um motorista de rickshaw. O esperto nos disse que cobraria 6 rúpias pela corrida (confirmamos o preço 3 vezes) e ao chegar ao local ele queria 600. Ainda teve a cara de pau de falar que oferecemos esse valor. Pagamos abaixo do preço de mercado: 20 para duas pessoas (normalmente, são 25 ou 30). Todo cuidado é pouco na negociação com o pessoal do ricksaw, seja de bicicleta ou motorizado, na chegada à cidade principalmente.
Muitos têm convênios com hotéis e, por isso, a missão de te convencer a se hospedar em determinado lugar. A nós, a 1h da manhã, garantiram que nosso hotel havia fechado. Mas, como tem sempre gente disposta a trabalhar honestamente, apareceu um homem para nos levar e pedalar 5 quilômetros. Uma das malas teve de ir na cobertura da bicicleta. Por várias vezes, notamos que ele não dava mais conta do peso. Tanto esforço rendeu a ele uma boa gorjeta e, a mim, um sorriso e um aperto de mãos dele, em sinal de agradecimento, que serão inesquecíveis. 

LÁ VEM O TREM


Depois de um atraso de sete horas por causa de um acidente na via férrea, finalmente, o trem de Nova Delhi a Jabalhpur segue viagem. No primeiro Vagões novos, com ventilador no teto, suporte para a garrafa de água mineral (até mesmo os indianos da grande cidade bebem essa água) e o assento que se converte em cama. São três de cada lado, sobrepostas, e duas no corredor.
Assim que o agente da companhia ferroviária confere os bilhetes, os indianos rapidamente sobem para as camas do “terceiro andar”, abrem as do meio, se acomodam na primeira, apagam as luzes e curtem uma boa noite de sono, merecida depois de uma longa espera.
O trem segue para Jabalhpur com paradas em Mathura, uma das sete cidades sagradas do país e onde nasceu Krishna, e Agra, onde está o Taj Mahal. Na estação de Mathura, há centenas de pessoas deitadas nas plataformas e no hall de entrada. Todas enroladas em panos e bem juntas, para driblar a gelada noite de inverno.

DO DIA:
Durante a espera, fomos salvos pelos indianos que aguardavam o mesmo trem e nos deram o alerta. O homem aparentemente gentil que ofereceu uma garrafa de brandi (claro, recusada), foi chegando, chegando, chegando perto, tirou uma soneca deitado no chão, e cada vez mais perto das malas, querendo dar o bote. Ainda bem que Alain Dhomé já estava devidamente a postos para por para correr! 

TOMAR UMA GERAL


Todo o cuidado é pouco para as as autoridades de um país tão populoso (mais de 1,2 bilhão de habitantes) e situado numa região extremamente delicada em termos de conflitos étnicos e religiosos. Cuidado que, na verdade, se aproxima de uma paranoia generalizada. Em Nova Delhi, concentração de pessoas é sinônimo de segurança máxima e, por conseguinte, Forças Armadas.
Seja para entrar na estação do metrô, do trem, no parque (Central Park) ou no mercado subterrâneo Palika Bazaar, é preciso passar antes pelo detector de metais, por revista policial e pôr todas as bolsas, malas e outros objetos na esteira de raios-x. Tudo isso sob o olhar atento de um guarda, devidamente instalado numa espécie de barricada e com o fuzil bem a postos. Fotos nem pensar!
Junia     Oliveira

LOCO MOVENDO-SE…


Meios de transporte para tudo e para todos. Esse é o espírito que impera quando o assunto são as maneiras de se locomover em Nova Delhi, com o adendo de o preço caber perfeitamente no bolso. Andar a pé é sempre uma ótima opção em qualquer parte do mundo e, talvez, a melhor forma de explorar aqueles cantinhos mais inusitados. Para distâncias mais longas, no entanto, o melhor é se integrar às possibilidades de cada cidade.
Por aqui, os rickshaws são as principais vedetes. Uma espécie de carroça apoiada a uma bicicleta ou pequenos carros de forma oval custam muito pouco e transportam muito de tudo. O primeiro leva pessoas, leva malas (e seus respectivos donos) e até móveis. São conduzidos por homens tão franzinos e a impressão que se tem é que não darão conta de chegar ao destino final. É muito comum ver uma carga até cinco vezes maior que o peso de quem está no guidom. O preço mínimo é de 10 ruppies, para um deslocamente de aproximadamente 10 minutos. Pela cotação atual, 1 Euro (R$ 2,28) é igual a 61 ruppies. Logo, o rickshaw mais simples custa  0,16 centavos de euro, ou R$ 0,40.
O tipo motorizado tem espaço para, no máximo, três pessoas magras, mas comporta facilmente seis ou mais passageiros, inclusive os de peso mais elevado. É interessante quando ele para e todos começam a se descolar para descer! Uma corrida custa cerca de 50 ruppies.
O metrô entrou mesmo em cena na vida de quem vive em Nova Delhi ano passado e custa apenas 8 ruppies. O ticket é uma moeda de plástico, que você passa no local indicado na catraca para liberar a entrada. A ideia de ter em mãos um suvenir é demovida logo na saída, pois é necessário depositá-lo em outra catraca para deixar a estação. 
Ônibus também são comuns, para deslocamentos maiores. E, para ir de uma cidade a outra e atender mais de 1,2 bilhão de pessoas na Índia, o mais usado é mesmo o trem, que também custa quase nada. Para uma viagem de duas horas e meia, por exemplo, até Mathura, uma das sete cidades sagradas do país e onde nasceu Krishna, a classe sleeper, na qual os assentos se transformam em cama, o preço é de 140 ruppies por pessoa (2,3 euros). Incrível, não?

INFORME


O blog (texto e fotos) será atualizado de acordo com a disponibilidade de internet. Nem todas as cidades do interior têm lan house, muito menos wi-fi (nem os hotéis). 

domingo, 30 de janeiro de 2011

Começando...


            Foram meses de planejamento para o que se pode chamar de ano sabático e o frio na barriga, mesmo depois de a viagem já ter começado,é igual ou até mais intenso do que quando apenas se pensava em fazer algo diferente na vida. Acho que os sentidos nunca estiveram tão fora de si – não no mau sentido, mas aguçados demais para receber um caminhão de informações. Desta vez, até minha cidade predileta aparece com ares diferentes, diante da certeza de que esta nãoé mais uma viagem de férias e, por isso, envolve responsabilidades. E o conhecimento a que me propus adquirir ganha mais um desafio: se abrir para um novo mundo. França e Ásia. Voilá! Je suis ouverte! J’espère!
Depois de as pendências domésticas tomarem mais tempo que o previsto e de a chegada a Lisboa vir acompanhada da perda de conexão para Paris e de um terrível estresse com a bagagem, finalmente, Paris! Afinal de contas, não é nada confortável ter as malas retiradas do avião quando só se pegaria as ditas cujas no destino final e esperar quase duas horas para recuperá-la com a terrível sensação de que, assim como duas semanas antes, elas também se perderiam.
O francês vai muito bem, obrigada, bem mais do que eu imaginava. Cheguei à conclusão de que, realmente, aprender uma língua no dia a dia é bem mais eficaz e barato que sentar em qualquer sala de aula. O que não impedirá, claro, de me preparar para fazer o teste de proficiência. Obrigação número um: entrar numa boa padaria ou no Monoprix (o supermercado que eu amo) e comer tudo o que gosto: croissant de verdade, galette des rois, biscoitos maravilhosos, tortas indecentes e vinhos très bon!
Obrigação número dois: les soldes, as liquidações mais fantásticas que já vi. Momento futilidade (as mulheres vão me entender, com certeza): a sensação de sair de uma loja e entrar em outra e, depois, sair comprando tudo o que a anteninha do consumismo apontou é indescritível. E com um detalhe: a certeza de que se está fazendo um excelente negócio comprando tudo muito, mas muito mais barato – do que no Brasil principalmente.
Obrigação número três: olhar a Torre Eiffel todos os dias, do despertar à hora de deitar. Escrever olhando para ela, que aparece do lado de fora da janela tão maravilhosa, a apenas três quarteirões de distância e tão perto como se estivesse do outro lado da rua, pode parecer bobagem, mas para mim é algo mágico. E quando ela se ascende à noite? Simplesmente, irresistível.
Da cidade das luzes para outra realidade. Estamos na Índia – melhor aproveitar agora, enquanto o calor não chega. Em Nova Délhi, o frio não é tão intenso como em Paris, mas o agasalho também é potente. Bem, é outro mundo. A começar pela alfândega. A galera do passaporte é tão dura que faz de qualquer agente da imigração europeia a pessoa mais simpática da face da Terra. Vim tão armada para o pior que o tal choque na chegada de que todos falam não existiu. Até agora, tudo o que eu vi, esperava bem pior. São quase 4 am (diferença de 7 horas e meia do Brasil e de 5 da França) e escrevo numa madrugada de pura insônia, quando resolvi fazer o blog, atendendo pedidos! O silêncio é quase inacreditável, dada a balbúrdia que se vê e se ouve durante o dia.
Saindo do Aeroporto Indira Gandhi, a certeza absoluta de que não se chegará vivo ao hotel predomina. Costurar no trânsito de qualquer cidade é fichinha perto do que rola por aqui. Filas de carros nas ruas e avenidas não existem. Eles ficam em tudo enquanto é posição, menos em fila. Sinais de trânsito são poucos e menos ainda são os que funcionam e para quem acha que motorista buzina demais nas grandes cidades, deveria ver o que ocorre aqui. Não se passam dois segundos sem um “peeennn” (sem qualquer exagero). É um tipo de organização que só mesmo os indianos entendem. Aquela coisa de que “eu dirijo desse lado e você do outro”  nunca passou por aqui. Mas, como dizem… “É a Índia (o que ainda está difícil de absorver). Todos os meios de transporte para todas as classes sociais, literalmente, se cruzam. No primeiro dia, você acha que vai enlouquecer. No segundo, começa até a achar engraçado…
Estamos bem no Centro de New Delhi, numa área com muitos hotéis e muitos turistas, predominantemente europeus e japoneses. Nas ruas, a sujeira é grande. Uau! Deixa qualquer entorno de rodoviária um brilho só. A intenção é aperfeiçoar também o inglês, mas até agora não consigo entender só 10% do que eles falam. Só se passou um dia e meio…
Enquanto puder, vou sobreviver com comida chinesa, porque a indiana é muito apimentada e eu não suporto. Mais que me fazer mal, acho que estraga o sabor da comida. No primeiro dia, me dei super mal com o que vi de mais simples no cardápio, batata e couve-flor, na certeza de que isso salvaria. Putz! No jantar, fiquei mais esperta. Aliás, comer é bem barato. Com 8 euros dá para almoçar e jantar tranquilamente (comida boa, para quem aprecia a culinária local), em muito bons restaurants. Ah! 8 euros para duas pessoas.
Templos existem por todo lado. 18h é o horário da ave-Maria dos ocidentais e também de Khrisna, de Shiva e dos milhares de deuses que há por essas bandas. Entrei no de Khrisna, ouvi um pouco da cantoria (bonito, aliás) e depois num de Shiva. Difícil foi deixar o pé só com meia no chão gelado. O resto foi interessante. Bem, fato é que para encarar um país como esse uma parte da frescura tem que ficar de lado e a mente deve se abrir o máximo possível. E isso nem sempre é fácil… Estou tentando…
Tinha que pôr o assunto em dia! Por hoje, vou ficando por aqui.

Junia Oliveira